sexta-feira, 16 de maio de 2014

Não gosto de dividir mesa com estranhos

DISCLAIMER: Linguagem meio chula e tal.

Duas vacas sentaram na minha frente enquanto eu almoçava castanhas de caju e tomava água com gás. Na mesma mesa. Até perguntaram se podiam sentar, eu, pega de surpresa, disse que sim, mas porra, é obvio que não podiam. Achei de uma tremenda falta de respeito. Estão comendo um negócio fedorento as duas. Espero que dêem o fora o quanto antes.

Meu cinismo me surpreende ultimamente. Conseguindo manter minha melhor cara de paisagem. Mas é que realmente não vejo razão para sair daqui. Teoricamente, elas vão sair antes, pois devem estar em hora de almoço. Uma delas começou a arrumar as bugigangas. Será que vão sair? Falam que nem duas matracas do inferno. Como pode, cara. Uma delas acabou de acender um cigarro. Fuma West Blue, a suína. Puta cigarro fedido. Espero que não achem que eu estou escrevendo o que rola, tipo descrevendo, e resolvam fazer algo memorável. Acabei de arrotar, que pena que saiu educado.

Como falam, caralho. Acho que descobri porque não gosto do sotaque daqui. As pessoas não fazem pausas nas orações! Parecem metralhadoras giratórias dando esporros um no outro! Não existem virgulas ou pontos quaisquer, só existe CAPSLOCK mesmo.

Tô começando a ficar deprimida. Tô perdendo o espirito. Elas não arredam o pé, porra. Espero que percam o emprego. Espero que peguem chato de quem pegarem aids. Será que se eu houvesse dito que não poderiam sentar, porque estava esperando alguém, ou qualquer coisa, será que teriam respeitado? Ou será que teriam sentado mesmo assim e ainda dado risada da minha cara? Tinha outras mesas livres, poxa vida.

Hora de partir para táticas mais ofensivas. Comecei a fazer contato visual. Daqueles do tipo neutro. De baixo pra cima. Escrevo e olho pra elas. Acho que tá saindo um pouco do tipo neurótico. Por mais de dois segundos, cada um deles. Acabaram de sair.

Venci!!

terça-feira, 29 de abril de 2014

Depois da tempestade vem... o recomeço?

Primeira semana na Eslovênia. Os primeiros dias foram bem tensos e cheios de vontade de comprar a passagem de volta escondido e voltar pro Brasil na surdina enquanto o namo trabalha. Como é diferente quando se vem para morar de quando se vem a passeio.... A passeio, eu ficava triste de ter de voltar. Mas agora, esse sentimento fatalista de não poder simplesmente pegar um avião e ir pra casa, pois se prometeu um monte de coisas sérias e acabaria-se sem dinheiro algum se o fizesse, é meio assustador. Isso, sem falar na vergonha de se tornar uma fraca de espírito e precisar de anos de análise.

Šaleška cesta (que eu chamo de "Rua Principal")

Ontem eu tava muito deprê. Não ajuda muito o fato de eu viver sonhando com a minha casa e com São Paulo em geral e acordar achando que estou lá. Resolvi dar uma volta à noite, não melhorei... Fiquei chorando na rua pensando "Onde foi que eu comecei a errar?" "Quando foi que eu comecei a errar?" "Isso obviamente não esta certo, pois eu não estou feliz" e "Quais os passos para consertar minha vida?" A ausência de resposta para as perguntas é o que ocasionou o choro.

Onde eu fui me meter, meu Deusss?

Hoje sai de novo. Não aguento ficar em casa sem ter com quem conversar, o namo tava trabalhando como ontem, e eu não tenho muito assunto com o irmão dele. Fui dar outra volta, que era para durar 30 mins (já que eu não tenho chave ainda e o irmão dele ia sair). Decidi que era hora de aprender onde fica a biblioteca (ou knjižnica), então fui eu. No caminho encontrei uma piscina-sauna, resolvi bloquear minha timidez de não saber o idioma e entrei para perguntar comofas e quanto é pra frequentar, eis que não precisa nem de exame médico e é até barato.

De lá, continuei procurando a biblioteca, e no caminho parei para comprar um sorvete. Pedi uma bola de maçã verde (zelena jabolka) e outra de morango (jagode), matei a curiosidade do atendente sobre como se falam tais sabores em português, quase cai dura quando paguei 2,30 euros - alias, pausa para um adendo. Não vejo a hora de aprender a falar esloveno para poder entender direito as contas que o povo faz aqui, para poder reclamar do troco, ou questionar preços. Digo isso pois todos os valores eram inferiores a 2,30 eur. Sei lá. Acho que fui enganada. Coisa de capricorniana.





Tito trg (Praça do Tito)

Enfim cheguei na Praça do tio Tito, o Marechal, que é tipo uma mistura de praça da Sé com Ibirapuera daqui, onde a criançada brinca, todos os prédios culturais ficam e os adolescentes... bem, eles ficam olhando seus smartphones, como em todo lugar. Terminei meu sorvete rápido pois avistei a galeria de arte da cidade. Tipo um Centro Cultural Itau. Lá fui eu, o lugar tava vazio que deu dó. Acabei vendo a exposição de uma artista, da cidade vizinha de Celje, Irena Romih (veja aqui algumas fotos) e fazendo amizade com o curador, a única alma viva dali, um húngaro chamado Arpad. Foi muito bacana, ganhei vários livros sobre a cidade, alem de um prognóstico de amizade. Segundo ele, Velenje é diferente da maioria das cidades da Eslovênia porque é multicultural. De fato, tem muito estrangeiro morando aqui.

Galerija Velenje, Tito trg.


Rosa, obra de Irena Romih, 2012.


Ter conversado com alguém, ter efetivamente CONHECIDO alguém, por conta própria, operou maravilhas na minha pessoa. Voltei pra casa feliz carregando meus livros e.... 2h atrasada, como atestou a carranca do irmão do Tomaž. Ah sim, e ainda nao consegui chegar na biblioteca!!! :)

domingo, 6 de abril de 2014

A louca dos gêmeos

O ser humano é um animal deveras curioso, devido ao seu cérebro avantajado. Tal órgão proporciona-lhe idealizar máquinas intricadas e viajar pelo espaço sideral, apenas fazendo bom uso de sua ferramenta mais magnífica, a imaginação. Ao mesmo tempo, pode levá-lo a destruir o planeta, matar os semelhantes, entre outras atrocidades. Basta abstrair em determinada direção. Basicamente, para parar de caçar clichês, simplesmente vou dizer que é capaz de coisa boa e capaz de coisa ruim. Mas também é capaz de coisas bizarras, especialmente quando envolve emoções. Especialmente quando essas emoções envolvem a maternidade, no caso de uma mulher. Especialmente quando existem obsessões mentais, daquelas no melhor estilo delírios/fantasias. Sei lá. Sei que comigo aconteceu um caso muito esquisito.

Quando você tem sua primeira gravidez, invariavelmente você não sabe de nada. Pode até saber teoricamente, mas na prática, nada. Então você descobre que está grávida, pensa "Preciso ir ao médico". Vai ao médico e eles têm de confirmar sua gravidez e a partir daí, você é levada pela correnteza dos desejos burocráticos do Estado, que obviamente são como são depois de terem sido feitos estudos epidemiológicos que levam em conta o que é melhor para a saúde pública. Então passam a marcar suas consultas, pedir seus exames, examinarem você, e, também, acho que por saberem que nem todas manjam e muitas se deprimem com todo esse processo que é estar prenha, te agendam para um "Grupo de Gestantes", onde você vai sentar em roda com um bando de outras prenhas para teoricamente falar sobre suas misérias e sonhos e tal.

Eu nem queria, mas como tô desempregada e não tenho nada pra fazer nas minhas manhãs, fora assistir Bom Dia BR, Ana Maria Braga, Bem Estar e Reencontro com Fatima Bernardes, nessa ordem, o que é igual a "nada", resolvi aceitar o convite feito por telefone de adentrar o tal do grupo de gestantes. No primeiro dia, eu que sou misantropa por experiência e tímida de nascimento, fiquei meio acanhada perante aquele monte de barrigas, cujas dúvidas eu já tinha lido em algum lugar e não eram experiência nova pra mim. Ou seja, puta tédio. Pensando em nunca mais voltar e amaldiçoando o fato de ter ido, finalmente a coisa toma um rumo mais interessante. Chegam para a reunião algumas mães com filhos, do tipo bebezinhos, e começam a contar suas experiências.

Agora começa realmente o causo. Não vou aqui ficar falando das experiências delas, mas de fato, foi legal porque surgiram coisas diferentes da teoria e da cartilha, inesperadas, coisas da vida, do cotidiano que ninguém espera. Inclusive segurei um nenê pela primeira vez nesses encontros. Era um menino bonitinho, que me chamou a atenção porque era quieto. Detesto criança chata. Gostei tb da mãe dele. Teve gêmeos, era muito carismática, animada, sabe aquele tipo de pessoa que chama a atenção para o causo que conta? Era do signo de Gêmeos, tinha uma irmã gêmea, sua mãe também tinha uma irmã gêmea, assim como também seu marido, tinha um irmão gêmeo. Fez uma minipalestra sobre a própria família, depois emendou com genética torta, e terminou nos revelando que fez promessa para Cosme e Damião, santos gêmeos, para que pudesse ter gêmeos. Isso acabou me cheirando a TOC de gêmeos, mas ela nos afirmou que era só pela praticidade. Duas crianças, uma gravidez. Crescem juntos. É mesmo. Contei que o pai do meu filho também tem um irmão gêmeo. Ficou interessadissima e me olhou com uma pontinha de inveja.

Pois bem, ela portava apenas um dos bebês, o que era normal, digamos assim, afinal, se é difícil cuidar de um, imagina de dois. Mas ela falava tanto das particularidades de cada filho que todas nós ficamos muito curiosas para conhecer o outro guri. E compará-los entre si. E com nossos futuros rebentos. Ansiosas pra ver algo de zuado neles. Afinal somos humanas. Prometeu-nos que o traria no próximo encontro, na próxima semana.

E não trouxe. Mas beleza, fazer o quê, os filhos são dela e o problema também. O problema é que, durante os debates depois das dúvidas, ela começou a cair em contradição. Disse que lavava as chupetas dos meninos com água e uma colher de sopa de cândida. O problema é que, em outra reunião, havia dito que era a coisa mais linda um deles chupar o dedinho. Que tal infante não pegava chupeta por nada. Lembro claramente disso porque eu chupava dedo quando criança. Até os 12 anos. Mas não vem ao caso. Comentei, e ela, meio desenxabida, disse que essa semana o guri do dedo tinha pegado chupeta. Tá bom. No fim, prometeu uma foto dos pequenos juntos para o próximo encontro. Mó bobagem isso, mas no fim todas nós pegamos ela pra cristo, só porque já tava dando no saco essa história de gêmeos, mesmo que a curiosidade em ver o moleque nº2 nem fosse tão grande assim.

Agora estou chegando no fim da estória. Então, na semana passada, ela trouxe uma foto dos meninos, lado a lado, deitadinhos na cama. Mas, para nossa perplexidade, o nº 2 estava coberto até a cabeça com um cobertor. Bege. Parahyba. Pô, não dá pra ver nada! Começamos a achar que não existia gêmeo nenhum. Que ela era doida. Que aquilo era uma boneca. Ou uma trouxa de roupa ajeitada em forma de nenê. Ela se desculpou, dizendo que tinha tirado a foto às pressas porque bla bla bla. La la la. Então a enfermeira,até então ofuscada pela mulher dos gêmeos, resolveu tirar isso a limpo. Disse que ia resolver o imbróglio e finalmente iríamos saber se aquele malfadado bebê existia em dobro ou não. Saiu da sala acompanhada pelo silêncio de expectativa das gestantes.

Quando volta, trás consigo uma câmera de raio-X. Nem sabia eu que tal coisa já havia sido inventada, mas vivendo e aprendendo né? Ela toma a foto da mão da mãe dos gêmeos e a fotografa. Para nosso assombro, o que se revelou ali ninguém esperava.

Não era uma boneca. Não era uma trouxa de roupa. Muito menos uma baguete gordinha. Nem uma tartaruga alongada. Mas pertencia ao reino animal também. Mais especificamente à família dos felinos. ERA UM GATO. O raio-X não deixava dúvidas. Óbvio ali estava o esqueleto de um gato revelado pelo raio-X, com seu tamanho característico, cara curta, presas afiadas, pés fazendo as vezes de joelho, pontígrados, e rabo. Com a patinha da frente em cima do bebê real, ainda. Obviamente não era um bebê. Era um gato! Ficamos todas sem fala e , quando olhamos à nossa volta, a mulher dos gêmeos havia desaparecido. Começou então o falatório, onde o senso comum imperava e até foi comentado que tudo era falta de deus. Encosto e afins. Fiquei triste e decepcionada. Exemplo tão fantástico do quão longe vai uma ideia fixa, e mais profundamente, imagina as implicações fisiológicas e filosóficas de todo o episódio. Conforme os ânimos cresciam, acabaram culminando na perseguição da mulher. Algumas até falavam em Datena. Fiquei sozinha na sala, tudo em tempo de reaver minha misantropia. Tava com saudade dela.

domingo, 30 de março de 2014

Triste em antecipação

... Com menos de um mês para minha viagem definitiva para o interior da Eslovênia, finalmente a ficha caiu... A saudade já está me corroendo!!!



1- Minha Casa
1.1. Meu quarto

A minha bagunça ajeitada, minha cama com meus travesseiros, meu edredom e meu cheiro, e o conhecimento perfeito de como me virar nela e assim adormecer...
Minha estante de livros, alguns que eu nunca li, sempre posterguei para um próximo mês, minhas revistas de moldes que eu nunca costurei
Minha TV, na qual paguei 80 reais num centro espírita, que eu ligo todo dia ao acordar para assistir Bom Dia Brasil...Depois Ana Maria Braga...Depois Bem Estar....Depois Reencontro com Fatima Bernardes.... kkkkk vida de desempregado é fogo
Meu guarda roupa que é muito mal desenhado, nunca esteve em ordem...
A janela que chove dentro pq eu sempre tive preguiça de consertar um furo com durepoxi... As vezes que eu cheguei em casa depois duma chuva e tava tudo alagado...
O pó... os cabelos pelo chão que eu limpo toda semana....
As baratas vivas e as baratas mortas, afinal meus gatos sempre dão cabo das que encontram...

1.2. Minha Cozinha
Com minha geladeira duplex bege escuro cheia de imãs descolados com um artesanato que eu fiz em cima xodó total, comprada no mesmo centro espírita por 150 reais, pela qual eu troquei o frete pela minha bicicleta... Com os cremes dentro, os cremes que eu fiz na aula de farmacotécnica, e nunca tive coragem de usar e nem de jogar fora...
Meu fogão, sempre sujo, sempre toscão, com gorduras velhas grudadas na porta, e nas gorduras, respingos de comida que cai da panela e pelos de gato, e seu forno que desliga sozinho se eu nao segurar a válvula de segurança durante todo o assamento da preparação... Quanta leitura botei em dia assim!!
Minha mesa mais cadeiras, desconfortáveis ao extremo, cadeiras em declive devido montador incompetente, com sua toalha impermeável que tb vive suja, mas eu procuro manter asseada...
Finalmente... minha pia :( Que eu sempre detestei , mas ultimamente tenho me dado bem com ela, descobri algumas rotas de uso que facilitaram minha vida....... Meu liquidificador que tão pouco eu usei :((((( Meu lixo marrom :S Meu saco de sacolas de supermercado usadas como saco de lixo...:S
Sem contar o ferro de passar com o fio com mau contato devido mordidas de Jukka e a tábua de passar que mais serve de dormitório para os referidos gatos...

1.3. Meu banheiro
MINHAS COISAS.... MEUS COSMETICOS, meu chuveirooooooo :S
Meu trono (lágrimas descem)...... Jamais farei minhas necessidades tão relaxadamente como ali.... Sério, é muito triste perder seu próprio trono :S

1.4. MEU CARRO, seu cheiro, sua embreagem, eu conheço cada coisica, otimizei totalmente a direção com a experiência.... Anda tão macio, meu carruxo :S

Sem contar as dinâmicas da casa :
- Conversas com pai pelo vitrô
- Brigas com a mãe pela janela
- Cachorros dormindo na porta
- Autobanhos de mangueira ao chegar da rua em dias de muito calor
- Andar milhas até o portão
- Minha lavanderia, esqueci dela.... Com seu varal que se move... Os cactus.... O tanque onde tanto exercício refrescante eu fiz, aka lavar pilhas de minhas roupas, enquanto cozinhava alguma gororóba e vinha pra internet enquanto trocava a água...

2- Minha mãe
Difícil falar pq tudo relacionado a ela é difícil. 90% da análise que eu faço, é só mamãe...

3- Meu pai
E ultimamente temos sido TÃO amigos, camaradas, brothers. Queria que vc ensinasse seu netx a jogar dominó.

Eu queria muito ter conhecido alguém que eu gostasse e gostasse de mim por aqui, mas acabou rolando em outro país. Fui achar minha carametade (por hora, vai saber) na Eslovênia... A relação sempre foi vivida sem pensar muito nas consequencias pq afinal não existiam lá muitas consequencias drásticas, mas agora chegou a hora do vai ou racha, que me fez pensar em tanta coisa, é uma página tão grande que eu tô virando, tô deixando tudo para trás, pra ir pra tão longe da minha família trapo e minha casa torta, que eu sempre meio que desprezei mas agora eu tô tão triste por perder, dói tanto... Não desconfiava que possuia tanto amor em mim... Fiquei pensando nos refugiados, imagine perder família e tudo que tem pela dor? No meu caso, pelo menos é por amor. Não sei mais o que pensar...

quinta-feira, 20 de março de 2014

Full Album: Debbie Harry - Rockbird (1986)

Bom, sem muita apresentação, sempre gostei muito de Blondie, tive umas fases nas quais só ouvia essa banda, praticamente. Acho um som leve, sofisticado porém longe de ser metido a besta, transgressor, na figura da Debbie Harry, uma beleza digna de passarelas que se aventurou e conquistou o mundo machista do rock anos 70. Afinal, foi a primeira que tinha esse visu "cuidado" dentro da vertente, especialmente, a do punk. Lendo a entrevista dela pra Mojo, deu pra ver como era tenso:

“She may be there all high and mighty on TV, but everybody knows that underneath all that fashion plating she’s just a piece of meat like the rest of them.”
- Lester Bangs, importante repórter que cobria a cena rock de NY e misógino.

Traduzindo porcamente: "Ela pode até estar toda poderosa na TV, mas todos sabem que por debaixo de toda aquela embalagem fashion, se encontra apenas um pedaço de carne, como todas elas são"

ARGH.

Enfim, venho por meio deste postar um álbum da Debbie Harry, de 1986, o Rockbird, que muito me agradou agora que eu o ouvi. Depois de ler o artigo, me deu vontade de conhecer a carreira solo dela, e foi uma agradável surpresa. Lembra bastante Blondie, se o Blondie tivesse continuado nos anos 80.


quarta-feira, 5 de março de 2014

05/03/2013

Tudo começou como uma nuvem de poeira vinda do interior do abismo. O teto se mexia e a vida, estagnada, fedia. Era um tempo de discórdia embaçada e minúcias que tomavam a proporção de um mar em ressaca. Um dileto vazio que descia, subia, sucumbia e depois se apoderava das energias e sentimentos e vontades dela, em demasia. Tudo era anestesiado e só o nada se fazia sentir! Monólogos gritando por atenção dentro de si enquanto só havia a presença dos móveis e a única resposta sonora era o barulho da rodovia ali perto. De que adiantava a poesia concreta do ventre fecundo, que grita futuro se, por fora, só havia mesmo os móveis, a poeira, a inutilidade, o cansaço, os projetos, todos abortados agonizantes suspensos no ar, por causa da timidez, do medo, da solidão, da esquizofrenia da vizinha e do próprio estado de nervos da pessoa em si?

Uma invasão cotidiana, repetida como estribilho cafona que gruda no ambiente, de mercadorias roubadas, amantes ruivas, loiras falsas, morenas, nordestinas, pretas, que trabalham num banco, que trabalham na banca de revista, que não trabalham, de homens com verminoses que duram mais de 2 décadas, barrigudos podres, bruxas que fazem um péssimo pão, desfilam ao lado, abençoados pelo olhar da TV sintonizada em programas carnicentos, pastores capitalistas, do Silvio Santos. E de Deus, que com ela se comunica e compactua, dando dicas! Sussurros no ouvido, advindos de Deus, comunicando a tragédia que nunca acontece: querem matá-la. Tentaram atropelá-la.Vão invadir!!!! É hoje....!!!! Finalmente... Em breve, PET SHOP! ou Restaurante. Armazém e cabeça ocupadas por fantasmas. E tudo, tudinho, decidido e assinado pelo sr. Juiz de Direito, seu bando de criminosos nojentos.

Silêncio. Gritos na janela. Pragas até no não-nascido. Mais silêncio.
Pouco caso e mãos atadas.
Lágrimas.

A cantilena do comício segue, com mãos de areia a descer no passo da música da rodovia. Na cabeceira da cama, livros lidos pela metade aguardam sua vez ao lado de roupas íntimas precisando lavar, pêlo de gato, gato. Mais tarefas assustadoras, como mamãe fazendo o boi da cara preta para assustar o bebê. O nenê só cresce, ele só aguarda, é um inquilino da vida, aguardando sua chance de cantar sua canção. Terá uma canção? Mamãe não tem nem amigos que lhe brindem um chá de bebê decente, daqueles que dá gosto tirar foto e esfregar na cara da sociedade, nas midias sociais, que orgulhe a tanto deflagar quanto ela é amada. Você pode não ter isso, criança, mas te prometo um tanque de 1000 litros de compreensão quando precisares gritar.

E abraços também não hão de lhe faltar. Até alguns beijinhos lhe prometo.

Santo, santo, santo, é quem nos redime, porque meu deus é santo e a terra cheia de sua glória está! Argh, melhor voltar pra vida real, desangustiar essa vida um pouco. Tomar um banho e terminar o café.  É a vida, é bonita e é bonita. A Musa se desabraçou dela e ela pensa no filme que pausou para demandar atenção e ser vista como um ser de primeira classe, pelo pai da criança, aquele floco de neve especial, cinza em vez de branco, que caiu de um céu estrelado de verão.

domingo, 2 de março de 2014

Documentário: Grey Gardens


No início dos anos 1970 (ou fim dos 1960, não sei ao certo), um escândalo abalou o nome dos Bouvier (a família materna de Jacqueline Kennedy) : sua tia, Edith Ewing Bouvier ("big Edie") e sua prima, Edith Bouvier Beale ("Little Edie"), moradoras da mansão Grey Gardens, antigo recinto de luxo na região de Nova York, agora um lugar decrépito, sem luz ou água, são ameaçadas de despejo pela vigilância sanitária do Estado (algo assim), devido ao monte de entulho, pulgas, gatos e guaxinins que viviam em comunidade com as moradoras no local. Jackie reformou a casa após os jornais mostrarem a situação do lugar, mas a derrocada de Edith e Edie, antes glamourosas socialites, agora, excêntricas e pobres loucas dos gatos, é mostrada nesse documentário um tanto quanto perturbador.

Os cineastas que dirigem o filme, irmãos Maysles, conviveram por algumas semanas com as mulheres, de forma que o retrato da desolação é bem fiel. Edie, sempre com seu lenço amarrado em volta da cabeça, de modo a esconder a careca (perdeu todos os pelos do corpo quando beirava os 40 anos, alguns dizem que numa tentativa de suicídio por fogo, outros dizem que naturalmente), vive a cantar e dançar, reminiscências de sua carreira não muito bem sucedida como chanteuse nos anos 30/40, a sonhar com um marido do signo de Libra e a ser criticada em tudo que faz por big Edie, sua mãe, que experimentou algum sucesso como cantora amadora até 1917, quando se casou (algumas das melhores cenas são de big Edie cantando). Uma sucessão de acontecimentos na vida das duas as levou à situação retratada no documentário.

Adorei esse documentário, consegui traçar vários paralelos entre eles e a minha situação com a minha mãe, entre elas, a negação de sua situação desesperadora, a dissociação psicológica em que vivem, como a manutenção de um pensamento de elite sem o ser. Além de outras coisas que eu for editando conforme for lembrando.

Assista Grey Gardens no Youtube: